Aos 13 anos de idade, eu frequentava a querida Igrejinha de Senador Guiomard, onde meu pai, antes de se tornar agricultor, havia sido pastor. Eu era um adolescente que trazia as marcas de uma vida dura e desafiadora no meio da floresta amazônica. Apesar disso, era um jovem de oração e inteligência, com o coração cheio de fé. Vivia na igreja de favor, trabalhava nas Águas do Quinari e limpava o templo em troca de abrigo e comida.
Dormia nos bancos frios da igreja, pois não tinha onde morar nem um cobertor para me proteger das madrugadas geladas. Naquele tempo, eu possuía apenas duas mudas de roupas: uma para trabalhar e outra para os cultos. Meus únicos calçados eram um par de sandálias desgastadas, uma verde e outra amarela, reflexo da precariedade da minha situação. Tudo o que me restava era orar e manter a fé viva em meu coração.
Certa vez, em um daqueles dias difíceis, fui à Igrejinha para participar do culto de ensino de terça-feira. Como era de costume, ajoelhei-me para orar antes do início do culto. Durante a oração, fui levado aos céus em espírito, numa visão. Meus ouvidos se abriram para o indescritível: uma luz intensa se revelou diante de mim, tão brilhante que não pude manter os olhos abertos. Percebi, então, que estava em um lugar santo, e uma alegria indescritível tomou conta de mim.
Naquele instante, pude ouvir os eternos louvores e a adoração dos santos ao Criador de todas as coisas. Ouvi os cânticos dos anjos exaltando o Eterno Deus, os sons inigualáveis dos instrumentos celestiais e as vozes dos Serafins e Arcanjos, regendo os corais eternos em adoração ao seu santo nome.
Os cânticos eram incrivelmente belos, as melodias sublimes e as harmonias, além do que qualquer ser humano poderia imaginar. As vozes celestiais e os instrumentos eram de uma perfeição que palavras não poderiam descrever. Os louvores oferecidos pelos homens na Terra, por mais sinceros que sejam, são infinitamente inferiores àquela adoração perfeita dos céus. A grandiosidade daquela glória está muito além do entendimento humano.
Em um dado momento, com meus ouvidos espirituais, pude captar os cânticos dos anjos, arcanjos, querubins e serafins. Embora não compreendesse o idioma celestial, eu sentia que estava na presença das multidões celestiais, ouvindo seus louvores ao grande Criador dos céus e da Terra. Foi um privilégio incomparável e uma experiência verdadeiramente espiritual.
Durante essa visão celestial, embora não pudesse ver mais do que a luz brilhante à minha frente, eu sentia a presença dos seres celestiais ao meu redor. Tudo pareceu durar apenas um breve minuto, mas quando voltei ao meu corpo, percebi que já se havia passado quase uma hora e meia. Retornei à Terra quase no final do culto, com o coração transbordando de amor, alegria e uma paz que mal conseguia conter.
É impossível para o ser humano comum descrever com precisão o que ocorre nos céus, onde habitam o Eterno e seus anjos santos. O que ouvi com meus ouvidos espirituais não poderia ser explicado em palavras humanas, pois nosso vocabulário não alcança a profundidade de tamanha experiência. Se um anjo falasse aos nossos ouvidos, seria difícil para nós compreender sua linguagem, tão santa e distante está ela da nossa realidade terrena.
Afinal, não é permitido que o homem mortal compreenda a totalidade dos céus, um lugar onde habitam apenas os seres sagrados perante o Eterno, onde recebem sua luz e vivem para ele eternamente. Mas, por razões que desconheço, Deus me escolheu, ainda criança, para experimentar um breve vislumbre de sua glória e de sua presença. Hoje, com palavras limitadas, tento compartilhar o que senti e ouvi naquele instante em que fui levado aos céus, na presença do Eterno e dos seus santos anjos.